O Sonho

O Sonho

  Intrigas-me da melhor das maneiras. Sempre o fizeste. Desde o momento em que te conheci, em que nos apresentaram e em que tu me dirigiste a palavra pela primeira vez, mentira assumida por motivos de manutenção de um imaginário idílico, eu soube. Talvez não conscientemente, mas eu soube, o tempo tinha-se começado a mover, e o mundo inteiro, cuja população havia subido para dois, iria atrás, arrastado por forças muito para além da compreensão de pessoas como eu.

  Havia qualquer coisa de especial em ti, algo que trazia ao de cima aquilo que as pessoas tinham de melhor, as suas cores, as suas melodias – nunca consegui perceber muito bem o que era, tanto quanto nunca te consegui perceber bem a ti. Sempre tomei isso como a coisa mais natural de sempre, era parte de ti, de quem tu eras, e isso bastava, não te queria de outra forma.

  Acho que nunca me vou esquecer de ti. É impossível. Entre tudo o que fizemos juntos, todas as nossas aventuras… lembras-te daquele dia em que apanhámos a lua? Em que subimos e descemos aquela escada enorme e em que ficámos pasmados quando a colocámos numa caixa e nos apercebemos que era mentira aquilo que diziam acerca da sua luz, nem que fosse somente pelo modo como ela iluminava o teu quarto à noite? Não te cheguei a contar, mas no meio da minha ingenuidade, eu tinha esperanças que a partir daí a noite iria durar para sempre, e que nós, com ela, não nos iríamos separar.

  Mas aqui estamos. Ou aqui estou eu. Perdi a conta às luas que passaram desde então, e o teu sorriso começa cada vez mais a escapar-se da memória, resultado daquilo que se começou a mover quando te conheci. Não percebo porque é que ele não voltou a parar…